sexta-feira, 25 de setembro de 2009


Ruy Barbosa



Rui Barbosa foi, sem dúvida, um dos mais importantes personagens da História do Brasil. Rui era dotado não apenas de inteligência privilegiada, mas também de grande capacidade de trabalho. Essas duas características permi­tiram-lhe deixar marcas profundas em várias áreas de atividade profissional nos campos do direito - seja como advogado, seja como jurista - do jornalismo, da diplomacia e da política.Foi deputado, senador, ministro e candidato á Presidência da República em duas ocasiões, tendo realizado campanhas memoráveis. Seu comporta­mento sempre revelou sólidos princípios éticos e grande independência polí­tica.Participou de todas as grandes questões de sua época, entre as quais a Campanha Abolicionista, a defesa da Federação, a própria fundação da Re­pública e a Campanha Civilista.Mesmo admirando a cultura francesa, como todos os intelectuais de sua época, Rui conhecia também a fundo o pensamento político constitucional anglo-americano, que, por seu intermédio, tanto influenciou a nossa primeira Constituição republicana. Era um liberal, e foi sempre um defensor incansável de todas as liberdades.Orador imbatível e estudioso da língua portuguesa, foi nomeado presiden­te da Academia Brasileira de Letras em substituição ao grande Machado de Assis.Sua produção intelectual é vastissirna. Basta dizer que a Fundação já publicou mais de 140 tornos de suas obras completas e ainda tern material para novas edições.Rui representou o Brasil corn brilhantismo na Segunda Conferência Inter­nacional da Paz, em Haia e, já no final de sua vida, foi nomeado Juiz da Corte Internacional de Haia, urn cargo de enorme prestígio.Em suma, Rui foi um cidadão exemplar e, ainda hoje, sua memória éfonte de inspiração para um grande número de brasileiros.
Frases e pensamentos

"O ensino, como a justiça, como a administração, prospera e vive muito mais realmente da verdade e moralidade, com que se pratica, do que das grandes inovações e belas reformas que se lhe consagrem."

"No culto dos grandes homens não pode entrar a adulação."

"A eleição indireta tem por base o pressuposto de que o povo é incapaz de escolher acertadamente os deputados."

"Só o bem neste mundo é durável, e o bem, politicamente, é todo justiça e liberdade, formas soberanas da autoridade e do direito, da inteligência e do progresso."


"É preciso ser forte e conseqüente no bem, para não o ver degenerar em males inesperados."


"Quanto maior o bem , maior o mal que da sua inversão procede."

"Sem o senso moral, a audácia é a alavanca das grandes aventuras."

"Não há outro meio de atalhar o arbítrio, senão dar contornos definidos e inequívocos à condição que o limita."

"Criaturas que nasceram para ser devoradas, não aprendem a deixar-se devorar."

"A acusação é sempre um infortúnio enquanto não verificada pela prova."

"A mesma natureza humana, propensa sempre a cativar os subservientes, nos ensina a defender-nos contra os ambiciosos."


"O café da manhã era servido, às vezes, no quarto. Rui preferia chá preto com leite, e torradas quentes de pão de provença com manteiga. As outras refeições, na Vila Maria Augusta, eram demoradas e servidas à francesa. Havia sempre dez a doze convidados. O almoço era servido na sala de almoço e o jantar, na sala de jantar. Maria Augusta sentava-se à cabeceira e Rui colocava-se a sua direita. Os filhos não eram admitidos à mesa, a não ser quando se tornavam maiores. Rui alimentava-se bem, mas moderadamente, provando de todos os pratos. Tinha fino paladar e era exigente quanto à qualidade da comida. Chegava ao ponto de conhecer, na mesa, que a cebola não era partida naquele dia. Quando ia almoçar em qualquer lugar, achava uma delícia. Apreciava caldo de feijão, canja, frango ensopado com batatas, frango ao molho pardo (moela e fígado - os pedaços preferidos), legumes, arroz feito na manteiga, miolo de boi, carne de carneiro e, como bom baiano, gostava de todos os pratos típicos - especialmente moqueca de peixe e molho de pimenta. Seu prato preferido era arroz de auçá (arroz com carne seca e molho de pimenta). A comida era feita num fogão à lenha, grande, de cobre muito brilhante, que conservava mais calor. Não passava sem ter a seu lado um grande pedaço de queijo do qual ficava tirando fatiazinhas durante a refeição toda, diz Baby [sua filha mais nova]. Tinha uma predileção especial pelas frutas. Raramente tomava cerveja e o vinho só era consumido quando havia convidados cerimoniosos. Nessas ocasiões era servido licor ou conhaque Três Estrelas, após o clássico cafezinho. Durante anos, Rui fez uso do copo de leite às refeições, costume que abandonou depois de regressar do exílio. Quando ia falar no Senado ou no Supremo Tribunal, a sua refeição consistia numa xícara de chá preto com leite e torradas, porque achava que era melhor passar fome do que ser surpreendido por uma congestão cerebral.

Águia de Haia

Rui Barbosa recebeu o cognome de "Águia de Haia" do Barão do Rio Branco que era o Ministro das Relações Exteriores na época da 2ª Conferência Internacional da Paz em 1907 "um diplomata de grandes qualidades e também um excelente criador de slogans", segundo dr. Américo Jacobina Lacombe.
Rio Branco pensava enviar para a Holanda uma "embaixada de águias", (Rui Barbosa e Joaquim Nabuco) tal como tivéramos no Império "um ministério das águias" – 21º Gabinete Conservador de Pedro de Araújo Lima, Marquês de Olinda – assim chamado por Joaquim Nabuco em virtude da experiência dos ministros que o compuseram. Nabuco não aceitou a missão, mas colaborou muito informando Rui Barbosa sobre o perfil dos delegados estrangeiros que compareceram à Conferência.
Antes do embarque de Rui a revista O Malho de 11/05/1907 já estampava uma charge dele representado por uma águia em viagem sob o título "Rumo da Holanda".
Por coincidência, na casa que Rui Barbosa adquiriu em 1893, havia uma escultura(?) bem em frente da fachada, representando uma águia dominando uma serpente. Quando o povo o aclamou com o epíteto de Águia de Haia, Rui Barbosa pensou em suprimir tal ornamento, que poderia parecer propositado e prova de falta de modéstia. Felizmente não realizou o intento. A peça até hoje figura no parque da Casa de Rui Barbosa como uma curiosa profecia.
Há também na decoração do teto na Sala Federação, no Museu, águias em estuque colorido.
Ruy Na Conferência


A atuação de Rui Barbosa foi decisiva na recusa da classificação das nações nos dois tribunais internacionais a serem criados. Pronunciou-se inúmeras vezes contra o projeto do tribunal de presas, que dividia os países de acordo com a tonelagem de suas marinhas mercantes, mostrando a injustiça que se cometia principalmente com as nações latino-americanas. Em seguida, descobriu que o projeto norteamericano para a composição do tribunal de arbitragem era ainda mais injusto.
Imediatamente Rui Barbosa comunicou ao barão do Rio Branco a distribuição de juízes proposta dizendo que se "tamanha e amarga humilhação" se verificasse, não haveria como permanecer dignamente na Conferência. O projeto apresentado pelos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha não mudou o teor de desigualdade na representação das nações no tribunal.
Rui Barbosa, de acordo com suas convicções e com as instruções recebidas do Brasil, já havia se manifestado contra a arbitragem obrigatória e tornou-se ainda mais incisivo ao perceber que os instrumentos da arbitragem estariam dominados pelas grandes potências. Assumiu então a posição de defender o princípio da igualdade entre os Estados soberanos e a resistência à depreciação da América Latina.
Com a adesão de muitos outros Estados, o princípio da igualdade foi vitorioso e a constituição do tribunal de arbitragem foi aprovada sem que a sua composição ficasse determinada. Foi uma vitória da habilidade de Rui Barbosa e da representação brasileira, mas não uma conquista permanente, pois, após as grandes guerras, o sistema internacional seria constituído a partir de instituições que consolidariam a hierarquização e a desigualdade entre as nações.




Ruy Barbosa por Ruy Barbosa



...o júri de ÉPOCA resolveu escolher Ruy Barbosa o maior brasileiro de todos dos tempos.


Em meio a tantos outros luminares que a posteridade reduziu a sinônimos de ruas e de praças, o jurista Ruy Barbosa (com "y", como pede sua família) é, provavelmente, o republicano brasileiro mais expressivo. Sua personalidade e trajetória exibem os traços essenciais que, bem combinados, costumam diferenciar os meros homens públicos dos verdadeiros estadistas. "O político planta couve para o alimento de amanhã. O estadista planta o carvalho para o abrigo do futuro." Palavras de Ruy, um plantador de carvalhos.
Eleito pelo júri de ÉPOCA o maior brasileiro da História, Ruy Barbosa foi o que os cientistas políticos chamam hoje de construtor institucional. Num país tomado pela monocultura cafeeira e lavouras arcaicas, Ruy simbolizou a ascensão dos profissionais liberais urbanos. À prepotência dos coronéis, opôs o idealismo dos bacharéis. Com sua inteligência invulgar, mostrou à classe média urbana que o conhecimento também era uma forma de ascensão social. Defensor intransigente das instituições liberais, Ruy guiou os primeiros passos de nosso Estado rumo à modernidade.
"Sua contribuição foi fundamental para definir a organização política de nosso país de modo compatível com os ideais republicanos", diz o jurista Dalmo Dallari. "Ele tinha pressa em ver o desenvolvimento do país", afirma o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central. "Ruy Barbosa defendeu com lucidez valores liberais avançados s numa sociedade então autoritária e atrasada", afirma o cientista político Bolívar Lamounier. Os três deram a Ruy os seus votos.
Ruy é o estadista brasileiro que mais se assemelha aos pais fundadores da nação americana, conhecidos como "founding fathers". Um deles, Thomas Jefferson, redigiu a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776), uma obra-prima da concisão em que, com palavras que se tornariam célebres, delineou filosoficamente um país. Como Jefferson, Ruy acreditava que era possível mudar o mundo com as palavras. A primeira Constituição republicana do Brasil, promulgada 115 anos mais tarde (em 1891), foi praticamente um livro de sua autoria.
Em seu tempo, Ruy foi alvo de críticas implacáveis. Para os acadêmicos, era um sonhador. Para os modernistas, um lusófono careta. Por décadas, seu culto ficou restrito aos círculos jurídicos. Ruy terminou conhecido, nas cartilhas escolares, como o Águia de Haia, alusão a suas intervenções sagazes na Segunda Conferência de Paz, de 1907.
A conferência, realizada em 1907, foi sua apoteose retórica. Poliglota, Ruy dispensou intérpretes. Orientado pelo Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores, defendeu bravamente o princípio da igualdade entre as nações. Pelas regras vigentes, o número de delegados de cada país era fixado de acordo com seu poderio naval. Maior a frota, mais votos. Suas intervenções no encontro, potencializadas por boa dose de ufanismo, fizeram com que Ruy voltasse ao Brasil consagrado. Nem tudo, porém, foram flores. Membros da delegação britânica o tacharam de "boring" - enfadonho, em inglês.
Ruy Barbosa nasceu em Salvador em 1849. O principal responsável pela famosa desenvoltura verbal do jurista foi seu pai, o médico baiano João José Barbosa de Oliveira. Ele fazia o menino Ruy discursar em pé, ainda criança, trepado numa velha mala. Ruy trouxe dessa época o hábito de manter a mão esquerda atrás do corpo e de gesticular apenas com a direita. Fez seus estudos básicos em Salvador e, aos 17 anos, seguiu para o Recife, onde iniciou o curso de Direito. Terminou a faculdade em São Paulo, no Largo de São Francisco, grande centro irradiador de idéias da época. Aos 23 anos, começou a trabalhar como advogado em Salvador. Casou-se em 1876, aos 27, com Maria Augusta Viana Bandeira, mãe de seus cinco filhos. Ficaria ao lado dela até o fim da vida. Em 1879, foi eleito deputado na Assembléia da Corte e se mudou para o Rio de Janeiro. Foi na então capital federal que Ruy Barbosa se tornou Ruy Barbosa.
Em mais de meio século de vida pública, Ruy liderou campanhas pelo abolicionismo, federalismo, pela separação entre Igreja e Estado, anistias e, principalmente, pela criação de instituições sólidas para a nascente democracia representativa brasileira. "Ruy é uma grande central telefônica a que vão dar todos os fios." Assim o definiu o escritor Monteiro Lobato. Monarquista liberal à moda inglesa, Ruy Barbosa só aderiu à República no último instante. Após a Proclamação de 1889, foi ministro da Fazenda do Gabinete Provisório. Candidatou-se quatro vezes à Presidência da República. Jamais venceu. Na disputa presidencial contra o Marechal Hermes da Fonseca, em 1910, conhecida como Campanha Civilista, combateu o militarismo e alastrou a consciência civil por todo o país. A farda ganhou as eleições, mas a toga ficou com a fama.



Ruy é o brasileiro que mais se assemelha aos "founding fathers", os pais fundadores da nação americana .