sexta-feira, 25 de setembro de 2009



"O café da manhã era servido, às vezes, no quarto. Rui preferia chá preto com leite, e torradas quentes de pão de provença com manteiga. As outras refeições, na Vila Maria Augusta, eram demoradas e servidas à francesa. Havia sempre dez a doze convidados. O almoço era servido na sala de almoço e o jantar, na sala de jantar. Maria Augusta sentava-se à cabeceira e Rui colocava-se a sua direita. Os filhos não eram admitidos à mesa, a não ser quando se tornavam maiores. Rui alimentava-se bem, mas moderadamente, provando de todos os pratos. Tinha fino paladar e era exigente quanto à qualidade da comida. Chegava ao ponto de conhecer, na mesa, que a cebola não era partida naquele dia. Quando ia almoçar em qualquer lugar, achava uma delícia. Apreciava caldo de feijão, canja, frango ensopado com batatas, frango ao molho pardo (moela e fígado - os pedaços preferidos), legumes, arroz feito na manteiga, miolo de boi, carne de carneiro e, como bom baiano, gostava de todos os pratos típicos - especialmente moqueca de peixe e molho de pimenta. Seu prato preferido era arroz de auçá (arroz com carne seca e molho de pimenta). A comida era feita num fogão à lenha, grande, de cobre muito brilhante, que conservava mais calor. Não passava sem ter a seu lado um grande pedaço de queijo do qual ficava tirando fatiazinhas durante a refeição toda, diz Baby [sua filha mais nova]. Tinha uma predileção especial pelas frutas. Raramente tomava cerveja e o vinho só era consumido quando havia convidados cerimoniosos. Nessas ocasiões era servido licor ou conhaque Três Estrelas, após o clássico cafezinho. Durante anos, Rui fez uso do copo de leite às refeições, costume que abandonou depois de regressar do exílio. Quando ia falar no Senado ou no Supremo Tribunal, a sua refeição consistia numa xícara de chá preto com leite e torradas, porque achava que era melhor passar fome do que ser surpreendido por uma congestão cerebral.

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