sexta-feira, 25 de setembro de 2009




Ruy Barbosa por Ruy Barbosa



...o júri de ÉPOCA resolveu escolher Ruy Barbosa o maior brasileiro de todos dos tempos.


Em meio a tantos outros luminares que a posteridade reduziu a sinônimos de ruas e de praças, o jurista Ruy Barbosa (com "y", como pede sua família) é, provavelmente, o republicano brasileiro mais expressivo. Sua personalidade e trajetória exibem os traços essenciais que, bem combinados, costumam diferenciar os meros homens públicos dos verdadeiros estadistas. "O político planta couve para o alimento de amanhã. O estadista planta o carvalho para o abrigo do futuro." Palavras de Ruy, um plantador de carvalhos.
Eleito pelo júri de ÉPOCA o maior brasileiro da História, Ruy Barbosa foi o que os cientistas políticos chamam hoje de construtor institucional. Num país tomado pela monocultura cafeeira e lavouras arcaicas, Ruy simbolizou a ascensão dos profissionais liberais urbanos. À prepotência dos coronéis, opôs o idealismo dos bacharéis. Com sua inteligência invulgar, mostrou à classe média urbana que o conhecimento também era uma forma de ascensão social. Defensor intransigente das instituições liberais, Ruy guiou os primeiros passos de nosso Estado rumo à modernidade.
"Sua contribuição foi fundamental para definir a organização política de nosso país de modo compatível com os ideais republicanos", diz o jurista Dalmo Dallari. "Ele tinha pressa em ver o desenvolvimento do país", afirma o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central. "Ruy Barbosa defendeu com lucidez valores liberais avançados s numa sociedade então autoritária e atrasada", afirma o cientista político Bolívar Lamounier. Os três deram a Ruy os seus votos.
Ruy é o estadista brasileiro que mais se assemelha aos pais fundadores da nação americana, conhecidos como "founding fathers". Um deles, Thomas Jefferson, redigiu a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776), uma obra-prima da concisão em que, com palavras que se tornariam célebres, delineou filosoficamente um país. Como Jefferson, Ruy acreditava que era possível mudar o mundo com as palavras. A primeira Constituição republicana do Brasil, promulgada 115 anos mais tarde (em 1891), foi praticamente um livro de sua autoria.
Em seu tempo, Ruy foi alvo de críticas implacáveis. Para os acadêmicos, era um sonhador. Para os modernistas, um lusófono careta. Por décadas, seu culto ficou restrito aos círculos jurídicos. Ruy terminou conhecido, nas cartilhas escolares, como o Águia de Haia, alusão a suas intervenções sagazes na Segunda Conferência de Paz, de 1907.
A conferência, realizada em 1907, foi sua apoteose retórica. Poliglota, Ruy dispensou intérpretes. Orientado pelo Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores, defendeu bravamente o princípio da igualdade entre as nações. Pelas regras vigentes, o número de delegados de cada país era fixado de acordo com seu poderio naval. Maior a frota, mais votos. Suas intervenções no encontro, potencializadas por boa dose de ufanismo, fizeram com que Ruy voltasse ao Brasil consagrado. Nem tudo, porém, foram flores. Membros da delegação britânica o tacharam de "boring" - enfadonho, em inglês.
Ruy Barbosa nasceu em Salvador em 1849. O principal responsável pela famosa desenvoltura verbal do jurista foi seu pai, o médico baiano João José Barbosa de Oliveira. Ele fazia o menino Ruy discursar em pé, ainda criança, trepado numa velha mala. Ruy trouxe dessa época o hábito de manter a mão esquerda atrás do corpo e de gesticular apenas com a direita. Fez seus estudos básicos em Salvador e, aos 17 anos, seguiu para o Recife, onde iniciou o curso de Direito. Terminou a faculdade em São Paulo, no Largo de São Francisco, grande centro irradiador de idéias da época. Aos 23 anos, começou a trabalhar como advogado em Salvador. Casou-se em 1876, aos 27, com Maria Augusta Viana Bandeira, mãe de seus cinco filhos. Ficaria ao lado dela até o fim da vida. Em 1879, foi eleito deputado na Assembléia da Corte e se mudou para o Rio de Janeiro. Foi na então capital federal que Ruy Barbosa se tornou Ruy Barbosa.
Em mais de meio século de vida pública, Ruy liderou campanhas pelo abolicionismo, federalismo, pela separação entre Igreja e Estado, anistias e, principalmente, pela criação de instituições sólidas para a nascente democracia representativa brasileira. "Ruy é uma grande central telefônica a que vão dar todos os fios." Assim o definiu o escritor Monteiro Lobato. Monarquista liberal à moda inglesa, Ruy Barbosa só aderiu à República no último instante. Após a Proclamação de 1889, foi ministro da Fazenda do Gabinete Provisório. Candidatou-se quatro vezes à Presidência da República. Jamais venceu. Na disputa presidencial contra o Marechal Hermes da Fonseca, em 1910, conhecida como Campanha Civilista, combateu o militarismo e alastrou a consciência civil por todo o país. A farda ganhou as eleições, mas a toga ficou com a fama.



Ruy é o brasileiro que mais se assemelha aos "founding fathers", os pais fundadores da nação americana .







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